Moradores dos bairros localizados fora do centro expandido da capital paulista pressionam a prefeitura paulistana a rever o plano de instalação de ciclovias na cidade. Dos 400 quilômetros previstos pela administração municipal, 180 quilômetros ou 45% servem aos bairros periféricos. O restante das faixas exclusivas para bicicletas fica na região central.

“Em um determinado momento, faltavam menos de 150 quilômetros para concluir o plano de metas dos 400 quilômetros, e ascendeu uma luz. Se não priorizar os 100 quilômetros [restantes] para a periferia, infelizmente a gente vai ter várias ciclovias, mas elas não vão ter um caráter de rede, não vão se interligar às ciclovias do centro”, disse em entrevista à Agência Brasil o ativista em mobilidade Roberson Miguel, para lembrar o Dia Mundial sem Carro, comemorado hoje (22).

Morador da zona norte de São Paulo, Roberson é um dos responsáveis pela campanha #CicloviaNaPeriferia que conta com adeptos das quatro regiões da cidade. Em abril, organizaram-se e conseguiram uma reunião com secretário municipal de Transportes, Jilmar Tatto.

“Lançamos o #CicloviaNaPeriferia pouco antes de uma reunião com o secretário e começamos as discussões para ver se realmente eles se movimentavam nessa direção. A gente achou que talvez não fosse suficiente só sentar à mesa e conversar, e começamos o movimento na rua, nas redes sociais com a hastag CicloviaNaPeriferia”, conta.

Mobilização

A mobilização fez com que a prefeitura criasse um grupo de trabalho para debater com representantes do movimento a instalação de ciclovias na periferia. “Depois desse processo, reunimos com o pessoal da CET [Companhia de Engenharia de Tráfego] e apontamos as vias que seriam prioridade para a gente. Mas não sabemos ainda o que foi acatado”, destacou Roberson.

Segundo a CET, deverão ser implantados mais 139,8 quilômetros de ciclovias em todas as regiões da cidade. O órgão informou algumas áreas da periferia que receberão as faixas exclusivas. Serão sete quilômetros em Parelheiros, zona sul; oito quilômetros em Aricanduva, zona leste; sete quilômetros na Capela do Socorro, zona sul; sete quilômetros na Vila Maria, zona norte; seis quilômetros em São Miguel, zona leste, e quatro quilômetros e meio em Cachoeirinha, na zona norte.

“Na periferia, você tem um fator adicional [de necessidade de ciclovias] que é a pessoa que já usa a bicicleta. E é um número muito superior ao pessoal das regiões mais centrais onde já tem um transporte público um pouco melhor”, destaca Roberson.

Pesquisa

Pesquisa da Associação dos Ciclistas Urbanos de São Paulo (Ciclocidade), feita em parceria com a organização não governamental (ONG) Transporte Ativo e Observatório das Metrópoles, mostra que 80% dos ciclistas de São Paulo que não têm acesso a ciclovias estão na periferia da cidade.

No entanto, o quadro começa a se alterar. O professor de geografia Lincon Paiva pedala há dez anos na periferia para chegar ao trabalho. Hoje vê a situação melhorando. “Eu já adotava a bicicleta há dez anos. Onde não tinha ciclovia, ia de bicicleta da mesma forma. Hoje, 60% do meu caminho é feito por meio de ciclovia, parte da prefeitura e outra do Metrô”, conta. Ele pedala diariamente 10 quilômetros de casa, na Vila Prudente, na zona leste, até a cidade de São Caetano do Sul, onde leciona. Carrega os diários de classe e um notebook na mochila.

“Costumo dizer para todos os amigos e professores que se antes eu me preocupava com o carro, com buraco, com a sujeira, hoje eu só me preocupo com o buraco, porque há um respeito muito maior. A ciclovia está lá, está dizendo: esse é o espaço do ciclista.”

Fonte: Agência Brasil