Estudo feito pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Políticas Públicas do Álcool e Outras Drogas (Inpad), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), indica que a violência física contra a criança ou adolescente pode ser um fator que leva ao consumo de drogas lícitas, como o álcool, ou ilícitas.

Segundo o Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad), dos 4.607 indivíduos pesquisados em 149 municípios, 21,7% relataram terem sido vítimas de alguma violência na infância ou na adolescência. A ocorrência entre as meninas foi de 20,5%, enquanto entre os meninos, de 17,8%.

Adolescentes ou adultos que presenciaram agressões físicas entre pais ou cuidadores também podem ter sido influenciados a consumir tais substâncias, conforme o estudo. Entre os adolescentes pesquisados, 8,4% daqueles que consomem drogas viram discussões no ambiente doméstico. Entre maiores de 18 anos, o número chega a 11,1%.

O estudo aponta que, entre os que sofreram agressão, 12,4% foram empurrados, arranhados ou beliscados; 11,9% apanharam até ficarem com marcas; 9,3% foram insultados e humilhados; 5,9% foram machucados com objetos; 1,7% foram ameaçados com armas ou facas e 0,7% foram queimados com água quente. Em 20% desses casos, o causador da violência havia bebido. E em 8%, o fato de os pais ou alguém da convivência dessas pessoas usarem substâncias ilícitas foi fator de risco para que eles passassem a usar também.

Quando se fala em violência sexual, o Lenad revelou que 5,3% dos entrevistados foram molestados em algum momento, sendo que 33% disseram que o abusador foi um parente e, em 25% dos casos relatados, um amigo. Entre as mulheres, a violência sexual doméstica é maior (7%) do que entre os homens (3,4%). 1,3% dos participantes da pesquisa afirmaram terem sido vítimas de exploração sexual para obtenção de lucro.

Os atos de violência física ou psicológica intencionais e repetitivos na escola, o chamado bullying, atingiram 13% dessa população, sendo a agressão verbal (12%) e o isolamento social (5%) os mais comuns. Aparecem na lista também agressão física (3,2%), racismo (1,3%), ofensas pela internet (0,1%) e homofobia (0,1%).

A coordenadora do Lenad, Clarice Sandi Madruga, defendeu a prevenção como um primeiro passo para que essas crianças não sofram abusos. “A prevenção tem que ser primária, em escolas, como o treinamento de professores e qualquer pessoa que tenha contato com os alunos para que saibam o que é abuso. Profissionais dos serviços de saúde devem saber identificar, [saber] o que fazer nesses casos e para onde encaminhar essas vítimas”.

Os estudos mostraram associação entre a exposição ao abuso físico e psicológico na infância com consequências negativas para a saúde mental e emocional na vida adulta, como maior predisposição à depressão e ao uso de psicotrópicos. “O abuso sexual está muito mais vinculado com o consumo de substâncias ilícitas, aumentando em até quatro vezes a chance de abuso dessas drogas. Pessoas com mais predisposição para o consumo de álcool também têm predisposição para a depressão”, segundo a coordenadora do Lenad.

Fonte: Agência Brasil