Em reconstrução, Angola enfrenta desafio de crescer com justiça social
13 de nov de 2014 - 11:43h Devastado por quase 30 anos de guerra civil, entre 1975 e 2002, Angola deixou para trás o cenário de terra arrasada. Segundo maior produtor de petróleo da África Subsaariana, o país cresceu 4,1% em 2013 e também é um grande produtor de diamantes. A abundância de recursos naturais, no entanto, representa um desafio, à medida que o país precisa reverter o crescimento econômico em benefícios para toda a sociedade.
Desde o fim do conflito, Angola tem alcançado progresso significativo na redução da pobreza absoluta. O percentual da população que vive com menos de US$ 2 por dia caiu de 92%, em 2000, para 54%, em 2014. Desde 2002, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do país tem crescido em torno de 2% ao ano, a terceira maior taxa de expansão do Continente Africano. No entanto, o país está em 149º lugar no ranking global e permanece abaixo de países do Sul da África, como Botsuana (109º), a Namíbia (127º) e Zâmbia (141º).
Para o professor Anderson Oliva, do Departamento de História da Universidade de Brasília (UnB), o país precisa combinar pujança econômica com justiça social. “Desde 1978, o poder está nas mãos de um partido. As principais empresas estão nas mãos de uma elite política, embora haja esforço para desconcentrar esse controle. Para melhorar o desenvolvimento humano, Angola precisa canalizar a renda do alto crescimento econômico, principalmente do petróleo e do diamante, para todas as camadas da sociedade”, diz Oliva.
Desde 1979, José Eduardo dos Santos, do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), é o presidente do país. Em três décadas de guerra civil, o partido dominante viu-se diversas vezes ameaçado pela União Nacional para a Independência Total de Angola (Unita), mas jamais deixou o poder. O presidente venceu as eleições de 1992, cujos resultados não foram reconhecidos pela Unita, desencadeando mais dez anos de conflito. Após o fim da guerra, o MPLA venceu as eleições legislativas em 2008 e as eleições gerais de 2012.
Outro desafio para Angola é a reconstrução da infraestrutura destruída durante a guerra. O governo está executando um plano de obras, que prevê a reconstrução de mais de 2,2 mil quilômetros de estradas, além da construção de portos e aeroportos. No setor de energia, estão previstas a ampliação e a construção de barragens que permitirão aumentar a potência instalada dos 2,1 mil megawatts (MW) atuais para 5 mil MW até 2017. Por meio da construção de cisternas em 132 municípios, o fornecimento de água potável deve chegar a 65% da população até o fim do ano.
Para o presidente da Câmara de Comércio Angola–Brasil, Eduardo Arantes Ferreira, a modernização da infraestrutura é essencial para que o país diversifique a economia e passe a depender menos do petróleo. “A diversificação da economia é urgente e inadiável para garantir a independência econômica. Por isso, a estratégia de crescimento de Angola passa pela modernização e pelo desenvolvimento da infraestrutura econômica e social, a promoção do investimento público e privado e a formação, qualificação e gestão adequada dos recursos humanos”, explica.
Segundo o professor Anderson Oliva, outro desafio para Angola consiste em desconcentrar a população da capital Luanda. Com quase 7 milhões de habitantes, a cidade responde por 26,7% da população do país (24,3 milhões). “Por causa da guerra civil, muita gente foi forçada a migrar para a capital em busca de mais segurança. O país hoje precisa incentivar a volta da população para o interior”, ressalta.
De acordo com Ferreira, medidas para incentivar a economia do interior do país estão sendo tomadas. Ele destaca o esforço do governo para limpar os campos de minas terrestres e ampliar o potencial agrícola. “Até quatro anos atrás, somente 3,5% da área disponível para a agricultura no país podiam ser cultivados. Hoje, certamente, é muito mais do que isso”, diz.
Na avaliação do presidente da Câmara de Comércio Angola–Brasil, os trabalhos de reconstrução representam uma oportunidade para o país alcançar crescimento econômico sustentável com estrutura superior à de outros países africanos. “O mais importante é que as obras estão sendo executadas com tecnologia de ponta. E o país tem recursos para ter acesso ao que existe de mais moderno em infraestrutura”, declara.